terça-feira, 1 de janeiro de 2008

Um pouco de paz

Caminho sozinho, sem saber onde fica o Norte ou o Sul. Só sei que sigo a passo saboreando as cores da paisagem de uma tarde soalheira de Outono. Aventuro-me por caminhos de terra rasgados por sulcos, cicatrizes da forte precipitação que de vez em quando se faz sentir. Sigo por esses caminhos trilhados por máquinas e gente, atravessando os montes ondulados que mais parecem uma manta de retalho, ora cobertos de castanheiros, ora pincelados de uma vegetação rasteira de tons amarelo-acastanhados. E eu caminho sozinho, penetrando num desconhecido mundo e ao mesmo tempo familiar, subindo a encosta até alcançar o cume. Estende-se a minha frente um pequeno planalto onde imponentes castanheiros elevam os seus braços parecendo querer tocar o céu. Troco o caminho serpenteado que me trouxe até aqui pelo solo lavrado, quase nu, enfiando-me debaixo de uns quantos alinhados castanheiros. Percorro devagar as suas avenidas, sentindo o estalar das folhas sobre os pés. De vez em quando sente-se o barulho dos ouriços a mergulhar pela copa abaixo e embater no chão. Envolvido por estas árvores caminho, abstraindo-me de todos os pensamentos para poder abraçar a natureza que me rodeia, o silêncio, a paz. Todo este ambiente me transmite uma sensação de calma e bem-estar. Longe de tudo. À medida que me vou aproximando do fim do planalto avisto alguns castanheiros despidos de folhas e cercados por alguma vegetação. Abandonados ao desalento. Olho para estes gigantes sem alma, vencidos por uma doença que não quer dar tréguas por aqui. É com alguma tristeza que eu sigo o meu caminho. O sol toca o horizonte, os seus raios vão perdendo força. O amarelo dourado espalhado no ar vai arrefecendo, antecipando o crepúsculo. É hora de voltar.

Valentim Coelho






2 comentários:

Anónimo disse...

FELIZ 2008 e TODOS os anos que aí vêm com MUITA saúde, amor, dinheiro e paz!
Abraço*

Sissi disse...

simplesmente lindo o teu texto... gostei muito... parabens... continua!!! beijinhos