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quinta-feira, 1 de maio de 2025
Edmund Cooper (1973) – The Tenth Planet (versão portuguesa: O Décimo Planeta)
A maioria das pessoas da Terra nunca soube que o seu planeta estava a morrer. A maioria das pessoas da Terra – os numerosos milhões da Ásia, África, América do Sul – continuou como sempre tinha sido: faminta, analfabeta, cheia de doenças, com vidas breves. (…)
Assim, o obsoleto motor de combustão interna continuou a poluir a Terra; os pesticidas, inseticidas, herbicidas e fungicidas continuaram a destruir o equilíbrio da natureza; a poluição industrial continuou a envenenar os rios e os oceanos; os despejos domésticos asfixiaram as antiquadas e sobrecarregadas redes de esgotos das cidades, que continham dez vezes mais pessoas do que deviam; as epidemias ultrapassaram os antibióticos; a procura de energia atómica cresceu a um ritmo tal que o calor dos desperdícios atirados ao mar acelerou o efeito de estufa e teve como consequência o derretimento das calotes polares; e a vasta maioria dos quinze mil milhões de seres humanos continuou a reproduzir-se, como se o mero peso dos números ajudasse a evitar, a não tornar iminente, a catástrofe final.
O ponto sem regresso fora ultrapassado bastante cedo, no século XXI. Muitos membros eminentes da comunidade cientifica internacional fizeram avisos e sugeriram remédios drásticos – tais como controlo de nascimentos obrigatórios, projetos de esterilização em massa; limitações, internacionalmente aceites, do consumo de energia dos países tecnologicamente avançados; proibição do motor de combustão interna; o aproveitamento dos territórios desertos da África, India, Ásia e Austrália; colheitas marítimas sob controlo, a redistribuição da riqueza material e dos recursos minerais; o abandono de um programa espacial oneroso; o abandono da corrida internacional aos armamentos.
(…)
Por volta do Anno Domini 2050, os azuis céus da Terra tinham-se tornado quase uma lenda. Nove décimos da superfície do planeta estavam amortalhados em neblinas, nuvens, nevoeiros. O clima de monção já não estava confinado ao sul da Asia ou, na realidade, a uma estação em especial. Os oceanos sobreaquecidos produziam evaporação constante, que, por sua vez, produzia nuvens eternas e chuva eterna. A fotossíntese cedo foi vítima do longo e húmido crepúsculo. O Verão e o Inverno tornaram-se num só. As colheitas ainda germinavam prontamente, mas não conseguiam amadurecer. A chuva poluída chicoteava-as, moribundas, de volta ao solo saturado.
Desde tempos imemoriais, a fome fora a grande destruidora de impérios e das ambições sofisticadas da humanidade. Agora tornara-se a destruidora universal. Nenhuma quantia em ouro podia comprar um maduro campo de trigo. Nem mesmo a tecnologia mais engenhosa podia criar uma janela estável de céu limpo para os campos moribundos e os milhões de quilómetros quadrados de lama que outrora tinham sido terra fértil.
Finalmente, mesmo os políticos compreenderam que a Terra estava condenada e que a única esperança da humanidade estava alhures. Alhures consistia de duas possibilidades: um satélite pequeno, morto [lua] (…) e um planeta de potencial imenso, que levaria demasiado tempo a preparar para um êxodo em massa.
Por isso, com tardia lógica, tardia coragem e tardia determinação, a Organização das Nações Unidas – ineficaz durante mais de cem anos – decidiu transferir tudo o que podia ser salvo para Marte. (…).
Mas, à medida que do céu cinzento-escuro a chuva continuava a fustigar a Terra, destruindo colheitas, destruindo a esperança, a lei e a ordem começaram a desintegrar-se. Os Estados Unidos da Europa foram a primeira grande vítima. (…) nos finais do seculo XXI, uma galinha gorda e meio quilo de farinha de trigo tornaram-se mais preciosos do que um Rolls Royce (…). Assim, a Europa morreu de fome, ruidosamente, violentamente. E depois da Europa, caíram os Estados Unidos; e depois a Rússia, a América do Sul e a China. A Índia, cujo povo sempre tivera de se defrontar com a doença e a fome, durou um pouco mais. Mas não muito mais.
Edmund Cooper (1973) – The Tenth Planet (versão portuguesa: O Décimo Planeta), páginas 14-17
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