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quarta-feira, 18 de junho de 2025
Richard Lewis (1979) – Devil’s Coach-Horse (versão portuguesa: O Escaravelho da Morte)
Do limite da sua consciência, apercebeu-se dum barulho, um arranhar. Mudando penosamente de posição, espreitou para a gaiola perto de si. Ratos brancos e cobaias tentavam debilmente passar pelas grades das suas gaiolas. Suspirando com a dor, inclinou-se para a frente e, cada movimento pura agonia, abriu os fechos. Os animais rastejavam vagarosamente para fora, arrastando as barrigas pelo chão.
- Pobres diabos – murmurou Masters, voltando a cair contra a fuselagem, enquanto o som estranho e etéreo enchia mais uma vez o seu ser. E, depois, extinguiu-se deixando um silêncio quase total, apenas quebrado pelo arranhar dos ratos e cobaias que vagueavam desnorteados. Fechou os olhos, demasiado fraco para pensar mais.
Mas havia outro barulho, vindo de dentro do avião. Um barulho que o forçou a abrir as pálpebras, pesadas, para tentar descobri-lo. Um barulho leve, irritante, como uma unha a raspar no metal. E então viu-os. Grupos de escaravelhos, difíceis de identificar, rastejando pelo corredor em direção aos corpos torcidos e amontoados perto do cockpit. olhou para as figuras destroçadas, através dos olhos meio fechados. Tinha visto um movimento? Não importava, não podia fazer nada. Não havia lá qualquer vida, só morte.
Observou a névoa cor-de-rosa aparecendo de novo à sua frente, como algumas das criaturas se voltavam e se dirigiam para ele, como se sentissem que ainda estava vivo. Pestanejou com força e tentou focá-los. Sim, conseguia distinguir alguns deles agora. Lá estava o escaravelho-hércules, abrindo e fechando em patético desespero os grotescos cornos pretos da sua fronte, enquanto tentava arrastar o seu pesado corpo de cinco polegadas de comprimento sobre o metal. Enquanto olhava, parou repentinamente, fez mais uma tentativa para mover as duas patas anteriores e ficou quieto. Mais atrás dele, o escaravelho-veado, mais pequeno – embora o maior do Reino Unido, com três polegadas -, movia-se mais depressa, tal como o seu parente mais distante, a cabra-loura. Masters não podia contar quantos havia de cada, à medida que cerca de uma dúzia de diferentes escaravelhos se moviam para ele. Mas ninguém podia deixar de reconhecer o dorso riscado do escaravelho-do-colorado, à medida que se arrastava em frente.
Espalhou-se uma estranha calma por Masters enquanto ficava deitado olhando para as formas bizarras que rastejavam mais perto. Apossou-se dele uma sensação de leveza, acompanhada por uma súbita e lúcida perceção de tudo à sua volta. Sabia o que queriam os insetos que avançavam. E acenou brevemente com compreensão.
Estavam a ser levados pelo instinto comum a toda a vida, incluindo o homem: a vontade de sobreviver. E John Masters podia compadecer-se com isso, quase sentir-se bizarramente triste com a sua luta. Tinha feito dos insetos o objeto duma vida de estudo, via-os como uma forma de vida bonita e variada. Mas agora, enquanto jazia morrendo, sentiu tristeza misturada com irritação. Ele sabia que se dirigiam para ele, informados pelos seus recetores dos últimos vestígios de calor à sua volta, para furarem e se enfiarem nas pregas soltas das suas roupas. Ficariam nos restos de calor à sua disposição, até que, como ele, também morreriam.
De qualquer modo, desejou que os insetos não estivessem ali. Uma vida é mais do que suficiente para lhes devotar, pensou. Tinha-lhes dado a sua vida. Na verdade, era por causa dessas malditas coisas que estava agora a morrer. Já não podiam ter mais nada dele. Elas que vão para o inferno. Apertou os dentes enquanto apanhava um bocado de um frasco partido ao pé de si e o atirava, francamente, para cima deles. Os insetos pararam por momentos, enquanto o vidro balanço e se desfez no meio deles. E depois, como se fossem um só, continuaram a sua marcha para ele.
Masters, num estado ainda meio a dormir, meio acordado, estava demasiado esgotado para se mexer outra vez. Sentiu o seu corpo escorregar mais ainda, sentiu uma dor aguda quando um osso partido roçou noutro, mas não sentiu o sangue grosso, coagulado e meio gelado que começava a sair pelo lado esquerdo; não podia saber que a ferida no seu peito tinha abrido com o seu movimento brusco. Sorriu levemente enquanto a névoa vermelha o rodeava e a música distante recomeçava. «Claro que os escaravelhos e outros insetos farão ninho nas minhas roupas», disse tristemente para consigo. «Afinal de contas, toda a minha vida vivi com eles e para eles. Também posso morrer com eles». E assim, sorrindo palidamente, fecho os olhos quando os insetos o alcançaram e começaram a trepar para cima de si.
Treparam pelo casaco manchado de sangue, rasgado e aberto de um lado. Não pararam quando chegaram à ferida no peito e flanco. abrindo caminho através do sangue viscoso que saía de John Masters, um sábio entomólogo. Sangue que levava consigo a sua força e vida.
Ficou com a cabeça leve, perdendo a capacidade de diferenciar entre a realidade e a fantasia, portanto não podia ter a certeza do que aconteceu a seguir, estava tudo tão longe, parte doutro mundo, outro plano de existência. Pensou sentir uma impressão aguda de lado, logo abaixo da sua carne rasgada. Uma dor que parecia concentrar-se e espalhar-se por todo o corpo. E à medida que aumentava, a dor geral era acompanhada duma nova agonia. Uma sensação de picada, como se uma lima redonda ou um berbequim de baixa velocidade estivesse a ser forçado e virado para si.
Um som torturado gorgolejou na sua garganta quando a dor explodiu pelo seu corpo, submergindo-o finalmente, caiu para a frente, dobrando-se com as dores enlouquecedoras no flanco e peito. E depois, nada. Apenas o vazio negro que se abria à sua frente. Negrura sólida, reconfortante. Não mais sensações. Não mais dor. Morte bendita.
Perto do cockpit, a vinte pés de John Masters, jazia o fantasmagórico grupo de corpos deformados e embaralhados, membros misturados, formando uma escultura perversa. Quatro corpos, uns por cima dos outros – o americano e a sua mulher, o cientista britânico e o repórter. Logo à frente deles, o piloto e o co-piloto que tinha sido cuspido dos seus assentos. O pescoço do co-piloto tinha-se partido quando bateu na porta e o piloto tinha caído para cima dos controlos partindo a espinha.
Mas Masters tinha razão quando pensou ver um movimento. Tinha sido de Clare Borowski, a mulher do cientista americano. O marido morrera nos seus braços quando o avião caíra, e ela acordou e viu-se agarrar o seu cadáver. Tentara abaná-lo, na vã esperança de que ainda houvesse algum resto de vida nele, mas a sua força estava a acabar e desistiu por fim. E assim, a senhora que detestava voar apertou-se de encontro ao seu marido morto, lágrimas correndo pela cara abaixo, impossibilitada de fazer qualquer som, por causa do desgosto e falta de apoio que sentia.
No seu último momento de vida, também viu os escaravelhos e insetos de dorsos negros que avançavam apressadamente para ela. Amaldiçoou-os intimamente, culpando as criaturas que avançavam da morte prematura do seu marido. Rezou a Deus para que fossem embora e a deixassem morrer em paz. Mas elas continuavam a andar, movidas por uma força mais forte do que a prece duma mulher assustada.
Que John Masters e Clare Borowski tivessem morrido das suas feridas foi, para eles, um ato de providência. Se as condições enregelantes tivessem esgotado as suas forças naturalmente, teriam ficado vivos cerca de três a quatro horas, e teriam sabido o que lhes acontecia enquanto os escaravelhos rastejavam por cima e por baixo deles. Tal como aconteceu, nunca saberiam.
Porque os escaravelhos e outros insetos estavam a ficar malucos com a fome e o frio. Diferentes dos pássaros e mamíferos, espécies de sangue quente, a temperatura dum inseto muda com o ambiente próximo. Muitos podem adaptar-se a condições frias, mas não por muito tempo. Dirigiam-se automaticamente para o calor. Um cego instinto de sobrevivência, comum a todas as criaturas vivas, ditava as ações dos escaravelhos e insetos enquanto se moviam para os corpos quentes ou parcialmente quentes no avião. E enquanto as criaturas trepavam pelos membros partidos e ensanguentados e pelos ossos quebrados, guiava-os outro instinto: proteger as crias não nascidas.
À medida que os insetos se arrastavam desesperadamente, percebiam intuitivamente que a carne que arrefecia debaixo deles podia ser uma fonte de nutrição para os seus ovos e larvas. As suas mandíbulas morderam a pele macia e rasgada sob eles, e as suas bocas mastigavam o tecido embebecido em sangue. (…).
Richard Lewis (1979) – Devil’s Coach-Horse (versão portuguesa: O Escaravelho da Morte), páginas 20-24. Publicações Europa-América.
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terça-feira, 10 de junho de 2025
Azibo (Portugal)
Azibo, Podence, Macedo de Cavaleiros, Portugal (junho de 2025)
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quarta-feira, 4 de junho de 2025
Tbilisi Sea
The Tbilisi Se ais na artificial lake in the Tbilisi region. The lake has a length of 8.75 km and a width of 2.85 km.
domingo, 18 de maio de 2025
quinta-feira, 1 de maio de 2025
Edmund Cooper (1973) – The Tenth Planet (versão portuguesa: O Décimo Planeta)
A maioria das pessoas da Terra nunca soube que o seu planeta estava a morrer. A maioria das pessoas da Terra – os numerosos milhões da Ásia, África, América do Sul – continuou como sempre tinha sido: faminta, analfabeta, cheia de doenças, com vidas breves. (…)
Assim, o obsoleto motor de combustão interna continuou a poluir a Terra; os pesticidas, inseticidas, herbicidas e fungicidas continuaram a destruir o equilíbrio da natureza; a poluição industrial continuou a envenenar os rios e os oceanos; os despejos domésticos asfixiaram as antiquadas e sobrecarregadas redes de esgotos das cidades, que continham dez vezes mais pessoas do que deviam; as epidemias ultrapassaram os antibióticos; a procura de energia atómica cresceu a um ritmo tal que o calor dos desperdícios atirados ao mar acelerou o efeito de estufa e teve como consequência o derretimento das calotes polares; e a vasta maioria dos quinze mil milhões de seres humanos continuou a reproduzir-se, como se o mero peso dos números ajudasse a evitar, a não tornar iminente, a catástrofe final.
O ponto sem regresso fora ultrapassado bastante cedo, no século XXI. Muitos membros eminentes da comunidade cientifica internacional fizeram avisos e sugeriram remédios drásticos – tais como controlo de nascimentos obrigatórios, projetos de esterilização em massa; limitações, internacionalmente aceites, do consumo de energia dos países tecnologicamente avançados; proibição do motor de combustão interna; o aproveitamento dos territórios desertos da África, India, Ásia e Austrália; colheitas marítimas sob controlo, a redistribuição da riqueza material e dos recursos minerais; o abandono de um programa espacial oneroso; o abandono da corrida internacional aos armamentos.
(…)
Por volta do Anno Domini 2050, os azuis céus da Terra tinham-se tornado quase uma lenda. Nove décimos da superfície do planeta estavam amortalhados em neblinas, nuvens, nevoeiros. O clima de monção já não estava confinado ao sul da Asia ou, na realidade, a uma estação em especial. Os oceanos sobreaquecidos produziam evaporação constante, que, por sua vez, produzia nuvens eternas e chuva eterna. A fotossíntese cedo foi vítima do longo e húmido crepúsculo. O Verão e o Inverno tornaram-se num só. As colheitas ainda germinavam prontamente, mas não conseguiam amadurecer. A chuva poluída chicoteava-as, moribundas, de volta ao solo saturado.
Desde tempos imemoriais, a fome fora a grande destruidora de impérios e das ambições sofisticadas da humanidade. Agora tornara-se a destruidora universal. Nenhuma quantia em ouro podia comprar um maduro campo de trigo. Nem mesmo a tecnologia mais engenhosa podia criar uma janela estável de céu limpo para os campos moribundos e os milhões de quilómetros quadrados de lama que outrora tinham sido terra fértil.
Finalmente, mesmo os políticos compreenderam que a Terra estava condenada e que a única esperança da humanidade estava alhures. Alhures consistia de duas possibilidades: um satélite pequeno, morto [lua] (…) e um planeta de potencial imenso, que levaria demasiado tempo a preparar para um êxodo em massa.
Por isso, com tardia lógica, tardia coragem e tardia determinação, a Organização das Nações Unidas – ineficaz durante mais de cem anos – decidiu transferir tudo o que podia ser salvo para Marte. (…).
Mas, à medida que do céu cinzento-escuro a chuva continuava a fustigar a Terra, destruindo colheitas, destruindo a esperança, a lei e a ordem começaram a desintegrar-se. Os Estados Unidos da Europa foram a primeira grande vítima. (…) nos finais do seculo XXI, uma galinha gorda e meio quilo de farinha de trigo tornaram-se mais preciosos do que um Rolls Royce (…). Assim, a Europa morreu de fome, ruidosamente, violentamente. E depois da Europa, caíram os Estados Unidos; e depois a Rússia, a América do Sul e a China. A Índia, cujo povo sempre tivera de se defrontar com a doença e a fome, durou um pouco mais. Mas não muito mais.
Edmund Cooper (1973) – The Tenth Planet (versão portuguesa: O Décimo Planeta), páginas 14-17
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quarta-feira, 2 de abril de 2025
Museu Ferroviário Nacional – Espaço Museológico de Bragança
Museu Ferroviário Nacional – Espaço Museológico de Bragança.
O museu situa-se no centro da cidade, num edifício anexo à antiga estação de comboios.
sábado, 8 de março de 2025
She-Ra (Princess of Power)
Calendário 1986. Princess of Power (Nº 55). She-Ra. Princesa Adora, irmã gémea do príncipe Adam (He-Man). Ela é a mulher mais poderosa do universo. A sua força vem da sua inteligência aguda e destreza, dos seus poderes mágicos e habilidades curativas.
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sábado, 1 de março de 2025
Commando (1985)
Filme americano, de ação e aventura, realizado em 1985 por Mark L. Lester. Neste filme destaca-se o ator principal, Arnold Schwarzenegge. Em 1986, foram produzidos em Portugal, os calendários Cinema e Acção (Estúdio Stars’86, F.J. Santos – Coimbra) onde o filme Commando é representado.
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sábado, 1 de fevereiro de 2025
As Fábulas da Floresta Verde
Fábulas de Floresta Verde (Fables of the Green Forest, em inglês) é uma série de animação japonesa com 52 episódios, que foi exibida em Portugal pela primeira vez em 1985. Na série, a Floresta Verde é uma enorme floresta onde habitam diversos animais, como por exemplo as marmotas Joca e Mara, o coelho Pom Pom, o Ratola, o Quico e o Gugu. Em 1986, a Globo (gelados) lançou uma série de calendários com estas personagens.
sábado, 18 de janeiro de 2025
sexta-feira, 3 de janeiro de 2025
Sumol (original desde 1954)
Sumol laranja (da empresa Refrigor, Lda) foi a primeira bebida de fruta pasteurizada a surgir em Portugal, no ano de 1954 (1). A marca Sumol adotou, ao longo dos tempos, diferentes estratégias de marketing, como por exemplo publicidade em calendários.
(1) https://pt.wikipedia.org/wiki/Sumol
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